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Empresas para investir na bolsa: o que avaliar?

Por Rodrigo Santos
29 junho 2020 - 12:38 | Atualizado em 12 abril 2023 - 16:00
Abertura desta quarta-feira 19 de maio

Existem diversas formas de escolher empresas para investir na bolsa e a melhor metodologia vai depender muito de quais são os seus objetivos. Para operações de curtíssimo prazo, por exemplo, a análise gráfica pode ser a mais adequada. Nessas situações, não importa se a empresa tem bons fundamentos e perspectivas de crescimento, mas apenas o momento certo, quais são os melhores pontos de entrada e saída.

Agora, se a ideia é ser um investidor e formar uma carteira de ações no longo prazo, tudo muda. Nesse caso, quanto mais profundamente você conhecer a empresa, o setor em que ela atua, como ela é gerida, os resultados que apresenta e quais são as perspectivas para ela, melhor.

Nesse caso, é preciso analisar os indicadores financeiros da empresa, que estão nas Demonstrações Financeiras, principalmente no Balanço Patrimonial e no Demonstrativo de Resultados de Exercício.

Neste artigo, vamos mostrar o que você deve observar em cada um desses demonstrativos e também alguns indicadores derivados deles que trazem informações importantes que vão ajudar na tomada de decisão. Acompanhe!

Como funciona o Balanço Patrimonial?

O Balanço Patrimonial apresenta uma fotografia da empresa, mostrando seus bens e direitos de um lado e suas obrigações de outro. Do lado esquerdo, ficam os ativos e, do direito, o passivo e o patrimônio líquido. Veja o que significa cada um desses itens:

  • ativo (bens e direitos): são os bens e direitos da empresa, ou seja, os recursos disponíveis, como caixa e estoques, contas a receber, investimentos em máquinas e equipamentos. Estão divididos em ativos circulantes, isto é, que podem ser convertidos em finanças no curto prazo (até 12 meses), e ativos não circulantes, que são investimentos que têm retorno previsto para o longo prazo;
  • passivo (obrigações): são os compromissos que a empresa tem que cumprir com terceiros, que podem ser contas a pagar, dívidas de curto e longo prazo, impostos, folha de pagamento, eventuais perdas judiciais etc. Da mesma forma, está dividido em circulante e não circulante;
  • patrimônio líquido (PL): na prática, o patrimônio líquido é resultado da diferença dos valores do ativo e do passivo de uma entidade. Esse é um dos pontos mais importantes do balanço para análise de investimento, porque ele aponta o valor contábil da empresa, levando em consideração o capital social, lucros acumulados e fluxo de caixa, entre outros.

O que observar no Balanço Patrimonial para ajudar na decisão de investimento?

No fim, o que queremos saber aqui é se a empresa é sólida, se está indo bem e se tem boas perspectivas. Apesar de o BP ser uma fotografia de um momento, ele pode fornecer boa parte dessas respostas. Para isso, podemos tanto fazer uma análise horizontal quanto vertical.

A análise horizontal observa uma mesma informação em uma série de balanços, ou seja, pega várias fotografias e as transforma em um filme, considerando a série histórica. Já a análise vertical foca em ver como os diversos dados se relacionam uns com os outros dentro de um mesmo balanço. Vamos ver alguns exemplos.

Ativo circulante

O ativo circulante nos mostra como é o ciclo da empresa para ganhar dinheiro. Se você olhar o BP de uma companhia, vai ver três linhas, cujas nomenclaturas variam, mas que, em essência, são: caixa, estoques e contas a receber. Isso significa que a empresa usa o caixa para comprar estoques, vende esses estoques, que viram contas a receber e recebe os pagamentos, que são novamente caixa.

Uma empresa que está indo bem tem uma posição forte de caixa, ou seja, tem dinheiro para manter a operação e honrar seus compromissos. No entanto, não basta ter bastante caixa, é preciso ver se esse dinheiro vem do próprio negócio, e não da venda de um ativo, de uma emissão de ações ou de um empréstimo. É possível obter essa informação de algumas formas:

  • se o caixa aumentou, mas as dívidas não subiram, é sinal de que o dinheiro não veio de um empréstimo;
  • se o caixa aumentou e o ativo imobilizado não diminuiu, isso mostra que não houve venda de ativos;
  • checando se não houve emissão de novas ações.

Nesse caso, é possível fazer uma análise horizontal, ou seja, considerando diversos balanços. Se o caixa aumentou pelas atividades operacionais da empresa, é sinal de que ela tem um bom modelo de negócios.

Ainda olhando o ativo circulante, podemos fazer uma análise observando o estoque. Imagine uma situação em que o estoque diminuiu e as contas a receber aumentaram significativamente. O caixa da empresa, porém, não acompanhou esse aumento. Isso pode ser um sinal de que a empresa está oferecendo condições melhores de pagamento, com prazos mais alongados, para realizar as suas vendas.

Embora essa seja uma estratégia bastante comum em setores altamente competitivos, ela também aumenta o risco da empresa, que pode ter problemas com inadimplência nos pagamentos a prazo. Por isso, o ideal é procurar uma empresa cujo estoque aumente na mesma proporção que o lucro líquido, o que sinaliza que a empresa está encontrando formas rentáveis de aumentar as vendas.

Patrimônio líquido

Como dissemos acima, o patrimônio líquido também é um item importante a analisar na hora de escolher empresas para investir na bolsa. Vamos ver qual a sua composição e o que ele pode nos indicar.

Para começar, ele leva em consideração o capital social da empresa, isto é, os recursos iniciais que o titular sócio ou acionistas aportaram na empresa para mantê-la “viva” até que ela conseguisse se sustentar sozinha.

Também fazem parte do PL as reservas de capital, que são valores que a empresa recebe que não estão ligadas ao seu resultado e não têm relação com a produção ou entrega de bens e serviços.

Além disso, temos as reservas de lucro, que devem fazer parte do patrimônio líquido de uma empresa, assim como as ações em Tesouraria e os lucros ou prejuízos acumulados, que são a soma dos resultados (positivos ou negativos) que a empresa teve desde a sua constituição, de acordo com as Demonstrações de Resultados do Exercício.

Como o patrimônio líquido é resultado dos ativos (bens e direito) menos os passivos (obrigações), fica mais fácil visualizar como está a situação financeira da empresa e de que forma esse patrimônio é constituído. Uma empresa que tem um PL menor do que o capital social, por exemplo, ainda não conseguiu ter um retorno suficiente para cobrir o que os recursos que os sócios aportaram para colocá-la de pé.

Agora, se ela tem um montante alto de lucros acumulados, isso provavelmente mostra que a companhia vem gerando lucro sistematicamente, o que é um sinal positivo.

O que observar no Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE)?

O DRE é um relatório contábil que apresenta, de forma resumida, como foram as operações da empresa em um determinado período e o resultado que ela apurou, que pode ser lucro ou prejuízo. Ele é muito útil para analisar o desempenho da companhia e mostrar como está a saúde financeira dela.

Ele parte da receita bruta de vendas, ou seja, do valor que a empresa faturou no período, e vai deduzindo todos os custos e despesas que a empresa teve e somando eventuais outras fontes de receita.

Assim, da receita bruta de vendas, deduz-se o valor dos impostos que incidiram sobre as vendas, como PIS/Cofins, obtendo-se a receita líquida de vendas. Disso se subtrai o custo do produto vendido para obter o resultado bruto.

Do resultado bruto exclua as despesas operacionais, despesas administrativas e outras despesas (como salários, Previdência Social, aluguel, depreciação de bens etc.), as despesas financeiras (gastos com IOF, juros etc.) e some receitas financeiras e eventuais outras receitas.

O resultado da conta acima será o EBITDA da empresa. Na sigla em inglês, significa Earnings Before Interest, Tax, Depreciation and Amortization, ou seja, “Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização”, que, em português, fica LAJIDA. Bom, o que essa sigla gigante significa para o investidor em ações?

O EBITDA é um indicador muito importante na análise de ações. Ele indica a capacidade que a empresa tem de gerar caixa a partir das suas próprias operações, ou seja, é o resultado operacional da companhia. Reflete, portanto, a realidade financeira da empresa e, se você comparar esse número com o obtido nos exercícios anteriores pode entender se a empresa melhorando a sua competitividade e a sua eficiência ao longo do tempo.

É muito útil também para comparar empresas do mesmo setor, ainda que sejam de países diferentes, uma vez que ele exclui particularidades como os impostos, que diferem de acordo com o país.

Quais outros indicadores devem ser analisados na hora de escolher empresas para investir na bolsa?

Além das informações que já aparecem no BP e no DRE, os analistas usam outros indicadores a partir desses documentos para avaliar as ações. Confira alguns deles.

Preço sobre Lucro (P/L)

É um dos indicadores mais tradicionais na análise de ações. Ele é calculado dividindo-se o preço da ação pelo lucro por ação (LPA). Com isso, ele indica, em anos, quanto tempo um investidor levaria para recuperar o capital investido na ação.

Assim, se uma empresa tem P/L igual a 10, isso significa que o preço atual da ação representa 10 vezes os lucros acumulados dos últimos 12 meses. Nesse sentido, ele pode ser considerado um indicador de risco da empresa.

Ele é bastante usado para comparar empresas do mesmo setor. De forma simplificada, pode-se dizer que, se uma companhia tem um P/L de 10 e outra de 20, a primeira está mais “barata” do que a segunda.

Vale destacar, no entanto, que nem sempre essa análise é tão simples. Um P/L alto pode significar que os investidores esperam que aquela companhia apresente um crescimento de lucros maior do as das empresas que exibem um P/L mais baixo. Assim, esse indicador nunca deve ser observado isoladamente para tomar uma decisão de investimento.

Valor Patrimonial por Ação (VPA)

Essa é outra métrica muito utilizada na análise dos investimentos em ações. Ele mostra quanto o mercado está pagando pelo patrimônio líquido da empresa. Aqui, portanto, voltamos ao conceito de patrimônio líquido que vimos acima, nas explicações sobre o Balanço Patrimonial.

O VPA nada mais é do que o patrimônio líquido dividido pelo número total de ações. Se o patrimônio líquido da empresa for de R$200 milhões e ela tiver R$10 milhões de ações, seu VPA será R$20, ou seja, esse é o valor patrimonial por ação.

Agora, para saber quanto o mercado está pagando pelo patrimônio líquido da companhia, calcula-se o preço da ação/VPA. No nosso exemplo, imagine que o preço da ação é de R$40 e que o Valor Patrimonial por ação custa R$20. Assim, o preço da ação/VPA é R$40/R$20, que dá 2. Assim, sabemos que o mercado está pagando 2 vezes o valor patrimonial da empresa.

Um P/VPA igual a 1 significa que a ação está sendo negociada por um valor equivalente ao seu patrimônio líquido. Quando esse indicador estiver abaixo de 1, o investidor deve se mostrar cauteloso, porque isso pode significar que a empresa está passando por sérios problemas, já que a ação está sendo negociada abaixo do seu valor patrimonial.

Já um P/VPA acima de 1 mostra que o mercado está pagando pela ação mais do que o valor de todo o patrimônio líquido da companhia. Isso é comum em duas situações. A primeira é em empresas que não precisam de um patrimônio tão elevado para gerar valor para o acionista.

Já a segunda diz respeito a companhias que têm expectativas de um alto crescimento no lucro, o que levaria também seu patrimônio líquido a crescer a taxas elevadas nos anos seguintes.

Agora você já sabe o que observar na hora de escolher empresas para investir na bolsa. Vimos diversos aspectos quantitativos que podem indicar a solidez das companhias, mas vale analisar também questões qualitativas, como a qualidade da gestão, a transparência da empresa na prestação de contas, o tempo de mercado e o histórico que ela apresentou até o momento.

Esperamos que este conteúdo tenha ajudado você a entender melhor o que observar para tomar sua decisão de investimento. Caso tenha gostado do artigo, aproveite para disseminar o conhecimento compartilhando-o nas suas redes sociais.




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